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Ministério dos Livros

Um blog sobre livros e seus derivados

O livro (não) é um bem de primeira necessidade

18.01.21

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Por estes dias há uma grande discussão em torno do desconfinamento dos livros, da impossibilidade das livrarias estarem abertas e das grandes superfícies generalistas venderem livros.

Antes e entrar na parte filosófica deste texto, e numa perspetiva prática, o autor deste blog é uma pessoa dos livros, que defende os livros e tudo o que lhes diga respeito, pelo que, nestes últimos dias tenho partilhando apelos e mensagens, porque também eu sou pelo desconfinamento dos livros.

Adicionalmente, tendo em conta todas as exceções previstas para estabelecimentos que podem estar em funcionamento, não entendo o porquê de as livrarias não estarem (pelo menos) incluídas nas exceções, assim como não entendo o porquê da proibição das grandes superfícies venderem livros. Como muito bem escreveu Clara Capitão no Público, essa medida é claramente redutora e contraproducente no contexto do mercado livresco.

Dito tudo isto, e registada a parte prática, chegamos à parte filosófica deste texto, cuja essência é a ideia do livro enquanto bem de primeira necessidade. Se à primeira vista parece consensual que o livro é bem de primeira necessidade, na minha opinião, se refletirmos sobre o tema, podemos concluir que, possivelmente, não é.

Passo a explicar: o conceito de bem de primeira necessidade tem por base a ideia de algo que é essencial para a satisfação de uma necessidade humana básica, ora sendo Portugal um país onde a percentagem de população que não lê é extremamente elevada, é difícil generalizar o livro como um bem de primeira necessidade.

Para alguém como eu, e como muitos dos leitores que leem estas palavras, o livro é certamente um bem de primeira necessidade, o problema é que nós somos uma minoria. Para a maioria da população portuguesa o livro é um bem supérfluo.

Dito de outra forma, é a escassa importância que é dada ao livro em Portugal de uma forma geral que o coloca fora dos bens de primeira necessidade.

Um exemplo prático disso mesmo é a decréscimo significativo do mercado livreiro em Portugal durante a pandemia, em sentido contrário, aliás, com o que aconteceu em alguns países com outra tradição de leitura, onde a venda de livros inclusive aumentou.

Provavelmente a decisão do Governo de deixar as livrarias fechadas nada tem que ver com esta abordagem, mas, sendo errada, não deixa de refletir, na sua essência alguma proximidade ao real.

Lamento que seja esta a realidade, até porque neste pequeno espaço tento elevar o livro o alto que consigo, promovendo-o, enaltecendo-o e divulgando-o, sonhando com o dia em que ele efetivamente seja, para a maioria dos portugueses, de facto e não em teoria, um bem de primeira necessidade.

Nota: neste espaço registam-se opiniões, não verdades absolutas, até porque se houve algo que os livros me ensinaram, é que há muito poucas, pelo que, sintam-se à vontade para partilhar a vossa opinião.

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