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Ministério dos Livros

Um blog sobre livros e seus derivados

Leitura - "Não Faças Mal" de Henry Marsh

18.05.22

Cópia de Uma das últimas compras (47).png

Mais sobre o livro aqui

Se procurarem este livro numa livraria vão encontrá-lo na área de Medicina Geral, no entanto, o livro é muito mais do que isso.

“Não Faças Mal” de Henry Marsh não é um livro que, à primeira vista, fosse uma escolha óbvia de leitura aqui no Ministério, no entanto, em resultado uma recomendação a que atribui enorme credibilidade, fui espreitar e acabei por agarrá-lo quase no imediato.

Henry Marsh foi um reputado neurocirurgião inglês, hoje na reforma, que escreveu as suas memórias não para enaltecer os seus feitos, mas para falar dos seus erros, das suas consequências e da forma como lidou com elas. Não é um livro sobre façanhas, mas sobre imperfeições, falhas e sobre como lidar com eles e assumi-las faz parte de ser humano.

Numa cultura que cada vez mais apela à perfeição, e no oposto, branqueia e desconsidera o erro, este é um livro poderoso no sentido em que o coloca o erro no primeiro plano de uma forma crua, real e humana a um nível quem pode significar a diferença entre a vida e a morte.

Henry Marsh leva-nos através de anos de decisões complexas, algumas bem-sucedidas, mas de muitas outras com menos sucesso que tiveram consequências devastadoras na vida de pacientes. Pelo meio do assumir de erros e falhas há também um relato sobre a realidade do sistema de saúde britânico e também sobre as suas incursões à Ucrânia, onde trabalhou em regime de voluntariado.

Apesar de ter um emprego com algum nível de responsabilidade, quando comparado com um neurocirurgião é, na melhor das hipóteses, uma brincadeira de crianças. Fazer neurocirurgia é, literalmente, ter a vida de alguém nas mãos permanentemente, a cada operação. Conseguem imaginar o que é viver com essa realidade diariamente e ter a capacidade necessária para lidar com ela? Independentemente da forma que um médico possa adotar para viver com esta realidade é necessária uma construção psicológica para lá do imaginável.

Conforme referi no início, este não é apenas um livro sobre medicina, embora se possa aprender muito sobre o tema. É um livro sobre a vida, a morte, os erros, as falhas, a culpa, a sorte e as fragilidades. É um testemunho poderoso sobre a realidade. Cru e verdadeiro, que nos deve fazer pensar. Conheço muita gente que devia ler, obrigatoriamente, este livro.

Nota: Há muitos anos que tenha a ideia que os médicos deveriam ser os profissionais mais bem pagos de todos. Por uma razão simples que muitas vezes desvalorizamos: são eles que podem evitar que fiquemos privados “daquela coisa” que nos faz alguma falta para tudo o resto... a vida! Isso não devia ter preço, mas tendo devia ser bem pago.

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