Apontamentos para além dos Livros
As trágicas mortes de Diogo Jota e André Silva esta semana geraram inúmeras reações de condolências, de incredulidade. Uma em particular, de cariz religioso, via repetida e faz-me muito confusão. A ideia de que as suas mortes “servem certamente um propósito maior”.
Podem dizer-me que é uma forma de encontrar descanso e paz na brutalidade da morte, mas não consigo entender de forma nenhuma essa ideia porque ela de facto não coloca quem morre numa posição superior e no limite coloca todos aqueles com quem partilharam as suas vidas, aqueles que os amam e que eles amam numa posição de desvalorização, porque o “propósito superior” destrói completamente a vida dos que ficam. Três filhos pequenos (muito pequenos), uma esposa recente e o amor de uma vida, num dos casos.
Podem dizer-me que são palavras e que não fazem mal a ninguém. Talvez, mas aflige-me, porque depois olhamos para o mundo e identificamos esse desígnio superior a justificar tantas outras situações e ações negativas, transversalmente a muitas religiões.
Acho que infelizmente é só a brutalidade do mundo a acontecer e que somos todos muito menores do que achamos. Agora estamos, daqui a pouco podemos não estar. Somo seres biológicos. Nascemos e morremos. É só isto, com toda a dor insuportável dos que ficam. Essa sabemos que é real e existe mesmo.