Há já algum tempo que não falo aqui das Pessoas dos Livros, mas penso nelas muitas vezes.
Na minha cabeça desenvolvi uma espécie de teoria, polémica talvez, e cuja base é simples: por regra as pessoas dos livros têm tendência para ser melhores pessoas do que as que não são.
Dou muitas vezes por mim a pensar que determinadas atitudes estúpidas não aconteceriam se nas situações estivessem pessoas dos livros. Um carro estacionado a ocupar dois lugares, passar do final da fila do supermercado para o primeiro lugar quando alguém diz “Vamos abrir a caixa 4”, estacionar no lugar destinado a grávidas porque é mais perto da porta, só para referir algumas situações que presenciei no fim de semana que passou e cujos envolvidos, acredito com todo o meu ser, não eram Pessoas dos Livros.
Bem sei que não conheço muita gente, e que as Pessoas dos Livros não são perfeitas (muito longe disso), mas as que conheço são pessoas muito mais tolerantes, que sabem ouvir, que reconhecem erros, que pensam nos outros e que agem civilizadamente. Só estes atributos já fazem delas melhores pessoas do que muitas das que habitam este planeta e que não cometem erros, só tem certezas absolutas, estão sempre prontas para pontapear os outros, são egoístas e comportam-se como se fossem donas do mundo (parques de estacionamento incluídos).
Se calhar esta realidade só existe na minha cabeça, ou, na melhor das hipóteses, no meu pequeno mundo, mas gosto de acreditar nela, e vou tendo também algumas validações. Ontem, duas pessoas à minha frente na fila do supermercado, uma senhora recebeu troco, agarrou nas compras e menos de um minuto depois estava de volta à caixa. “Olhe, desculpe menina, enganou-se no troco. Eu paguei com uma nota de 10€ e a menina deu-me troco de 20€.” O tipo que estava ente mim e a senhora e que ainda estava a colocar as compras no tapete, virou para trás com e verbalizou o seguinte na minha direção “Eu é que não voltava de certeza!”.
Perguntam, e bem, o que é que isto tem a ver com as Pessoas dos Livros. À saída, depois de arrumar as minhas compras no carro fui guardar o carrinho, e, ao lado do local de recolha, estava a senhora do troco, sentada num carro no lugar do pendura a ler “Cemitério de Pianos” de José Luís Peixoto. Era uma Pessoa dos Livros.
Depois de lerem este exemplo podem dizer que uma andorinha não faz a primavera, e é verdade, mas também é verdade que quando vemos uma andorinha gostamos de pensar que é primavera.