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Ministério dos Livros

Um blog sobre livros e seus derivados

Novidade - "O Avesso da Pele" de Jeferson Tenório

15.04.21

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Mais sobre o livro aqui

Sinopse:

Agora que o pai morreu, inesperada e precocemente, Pedro tem pouco mais a que se agarrar senão aos ensinamentos e às memórias deixadas pelo pai, professor de Literatura na rede de ensino público. E homem negro, num país que julga os homens e as mulheres pela cor da pele. Esvaziado pela ausência, Pedro retraça os passos de Henrique nas ruas, procura vestígios seus nos pertences deixados no apartamento. Reduzido por vontade da mãe a uma relação intermitente com o pai, resta a Pedro a possibilidade de reconstruir ou imaginar o passado de Henrique enquanto homem, enquanto pai para, pelo caminho, procurar o entendimento de si próprio. Nesta rota íntima de Pedro, Jeferson Tenório faz uma delicada investigação das relações entre pais e filhos, ao mesmo tempo que esboça um retrato poderoso de um país sulcado pela segregação e pela pobreza, em que muitos não podem mostrar por vezes, nem sentir o seu avesso, esse espaço onde "entre músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu, isolado e único".

Críticas:
 
«Estamos diante de um escritor que, correndo todos os riscos, sabe arquitetar uma boa trama e encantar o leitor. Eu agradeço, a literatura brasileira agradece.»
Paulo Scott

«Uma obra necessária, contundente, que nos humaniza ao mesmo tempo que nos tira qualquer inocência diante da máquina racista que não para de destruir vidas das mais diversas formas.»
Miguel Sanches Neto, Jornal de Letras

Ainda sobre o livro "Caste - The Lies That Divide Us"

15.04.21

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Na sequência da minha publicação da semana passada sobre o livro “Caste – The Lies that Divide Us” de Isabel Wilkerson, um leitor enviou-me um email onde registava que o livro é para ser lido apenas numa perspetiva americana do tema, não se pode generalizar. Não concordei, respondi de uma forma breve e educada, mas hoje gostaria de refletir um pouco mais sobre o tema.

Pese embora o livro se centre de facto na realidade dos EUA, a verdade é a autora enquadra e contextualizado as suas ideias, comprovando as mesmas com a realidade da Índia e também com a subjugação dos judeus pela Alemanha nazi. Esta contextualização diz-nos que o problema não é americano, antes pelo contrário, e, no limite que é perigoso não percebermos que pode ser um problema global, ainda que mais ou menos exacerbado.

A ideia de castas, mais vincada menos vincada, subtil ou mais marcada, existe. Pode ser estabelecida com base na raça ou não. É a ideia de que existem seres humanos que são inferiores a outros e que por isso podem ser abusados, subjugados, ou simplesmente diminuídos.

Um exemplo prático que aconteceu próximo de mim: há uns anos atrás, num local onde trabalhei, alegadamente desapareceu um relógio de um colega do seu módulo de gavetas. O individuo em causa, que havia deixado o módulo de gavetas sem estar fechado à chave, começou a reclamar alto e bom som o alegado roubo, direcionando imediatamente a culpa para as empregadas de limpeza, perante a concordância de mais alguns elementos.

Poderão estar a pensar que se trata de uma questão de discriminação racial, porque efetivamente as senhoras da limpeza eram todas negras, no entanto, o individuo em causa não sabia disso porque entrava todos os dias às 12horas e nunca se tinhas cruzado com elas. O que aconteceu foi uma assunção direta de que só podia ter sido alguém que não fosse “um semelhante”, se quisermos alguém de uma casta inferior, “esse tipo de gente” como o próprio mencionou, acrescentando algo do género “os meus pais tem imensos problemas com essa gente”.

O que está em causa na situação acima é uma questão, à sua maneira, de castas, uma ideia de que há pessoas, pelas suas caraterísticas, proveniência, status social, que são inferiores a outras, e que por isso tem uma condição diferente e menor.

Não quero exagerar na dimensão da questão e sei que não é comparável, mas se fizermos um exercício de análise, acho que quase todos conseguimos encontrar focos onde a realidade referida no livro de manifesta. Em Portugal, diz-se que somos um país de brandos costumes, mas não somos imunes a esta realidade, com raça pelo meio, ou não. E acho que é importante que não nos esqueçamos disso. Somos todos pessoas, iguais, e não é o dinheiro, a raça, ou a posição social que altera isso.

Uma última nota para referir o seguinte: sei que por vezes passam por este espaço pessoas ligadas a várias editoras, pelo que deixo aqui o repto para considerarem este livro para tradução para português. Acho que é uma obra de grande valor e que devia ser dada a conhecer ao público português.