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Ministério dos Livros

Um blog sobre livros e seus derivados

Novidade - "O Duplo" de Fiódor Dostoiévski

19.03.21

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Mais sobre o livro aqui

Sinopse:

O Duplo foi publicado em 1846, poucos meses depois de Gente Pobre, primeiro romance de Dostoiévski, então com 24 anos. Muitas das inquietações do autor estão já presentes neste texto: uma história de um funcionário público obcecado pela existência de um colega, réplica de si próprio, que lhe usurpa a identidade, acabando por levá-lo à insanidade mental e à rutura com a sociedade.

A afirmação da liberdade individual contra instituições e normas existentes é precisamente o tema central do livro, ainda que sobressaia a compaixão pela condição dos humilhados, outra recorrência na obra do autor.

Com uma riqueza de recursos estilísticos admirável - comparada, por Nabokov, à de James Joyce - este é um romance intensamente criativo, que rompe com as convenções literárias.

Leitura - "Os Loucos da Rua Mazur" de João Pinto Coelho

19.03.21

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Mais sobre o livro aqui

Há livros que conseguem gerar um misto de sentimentos. Ás tantas parece que estamos a detestar o livro porque a história que nos está a ser contada é de tal forma desumana que o sentimento de repulsa tende a resvalar da narrativa para o próprio livro. Mas quando isto acontece é porque o livro é de facto muito bom.

Tive precisamente este sentimento com a leitura de março do Clube de Leitura do PNL 2027, “Os Loucos da Rua Mazur” de João Pinto Coelho, vencedor do Prémio Leya 2017.

O livro é bom, mesmo muito bom, a todos os títulos, na construção da história, dos personagens e na forma como está construída a narrativa. É a narrativa que muitas vezes aflige, na forma como o autor consegue retratar o pior da natureza humana no contexto da II Guerra Mundial, sem sequer abordar o que normalmente representa mais choque, os campos de concentração.

Como se pode ler na sinopse, “quando as cinzas assentaram, ficaram apenas um judeu, um cristão e um livro por escrever.” É pela mão dos principais personagens, o livreiro cego, Yankel, o escritor Eryk e da sua mulher Vivienne, e do livro escrito que ficamos a conhecer o que de pior o ser humano consegue ser para o seu semelhante.

Pior do que o sofrimento que alemães e soviéticos conseguiram infringir numa pequena comunidade polaca, dividida entre cristãos e judeus, foi o sofrimento que a comunidade conseguiu infringir a si própria. É essa a parte dura do livro, mais quando sabemos que se baseia nesse ponto em factos reais.

O final do livro é muito simples e simultaneamente muito humano, conferindo à história a falta de humanidade retratada nos eventos ocorridos na pequena comunidade polaca.

“Os Loucos da Rua Mazur” é um livro poderoso, bem construído e de grande alcance. É um livro para recordar pela sua parte ficcional, mas também pela sua parte baseada na realidade. Esta última é muito importante que seja lembrada. Nunca se sabe o dia de amanhã, e nunca é demais lembrar o pior da dimensão humana.